Gestantes têm mais risco de depressão e ansiedade durante a pandemia
01 de julho de 2020

Gestantes têm mais risco de depressão e ansiedade durante a pandemia

Compartilhe

Mulheres que vivenciaram a gestação durante a pandemia tiveram duas vezes mais chances de se enquadrar nos critérios de transtorno depressivo maior ou transtornos de ansiedade do que aquelas que vivenciaram a gestação antes da covid-19, de acordo com um estudo recém-publicado feito em Quebec, Canadá.

 

Quando Megan Canon deu à luz seu filho Lucas, em dezembro de 2019, ela pensou que seu primeiro dia das mães seria um momento alegre junto com seu parceiro, sogros e talvez até mesmo alguns amigos. Ela se imaginava sorridente, vendo Lucas passar de colo em colo das pessoas que o amam.

 

Em vez disso, ela se viu no chão, na porta de casa, no Colorado (Estados Unidos), chorando e à beira de um surto – oscilando entre pavor, culpa, ansiedade, indiferença e medo –, enquanto tentava sair de casa para o dia das mães no quintal de seus sogros, com distanciamento físico e uso de máscaras. Ela contou que só queria ficar escondida embaixo dos cobertores.

 

Seria suficientemente seguro? Seria este o acordo ideal com os sogros que, compreensivelmente, queriam ver o neto ou ela estaria cometendo um erro perigoso, que poderia resultar no adoecimento de uma ou mais pessoas? Como coordenadora de intervenções biomédicas no Colorado Department of Public Health and Environment, com mestrado em saúde pública, Megan sabia mais que a maioria das pessoas sobre o SARS-CoV-2 (sigla do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2). E ela sabia que cuidados rigorosos eram necessários para proteger a todos do vírus, o que só aumentava a sua ansiedade.

 

Depois de dois meses de pouca ajuda, mínima interação com amigos, grande privação de sono, “crises cotidianas” e um baby blues que nunca passou, Megan conta que o dia das mães acabou sendo memorável por outro motivo.

 

Esse “foi o sinal de que tinha alguma coisa errada em relação à minha saúde mental”, ela disse ao Medscape. “Minha capacidade de enfrentamento simplesmente desapareceu.”

 

Se os dados preliminares estiverem corretos, Megan está longe de ser a única.

 

Nesse estudo, 496 mulheres preencheram um questionário sobre saúde mental – desenhado para avaliar o estresse pré-natal e a sintomatologia psiquiátrica – antes da covid-19. Então, depois que a pandemia começou, 1.258 gestantes completaram a pesquisa on-line. A maioria das participantes vivia acima da linha de pobreza, e 95% eram brancas.

 

Os pesquisadores descobriram que mulheres vivenciando a gestação durante a pandemia (grupo “gestantes da era covid-19”) tiveram mais chances de manifestar graves sintomas de depressão e ansiedade, mais negatividade e menos positividade, e maiores alterações cognitivas e de humor do que aquelas que vivenciaram a gestação antes da pandemia (grupo “gestantes pré-covid-19”), mesmo após o ajuste para idade gestacional, renda, história de doença psiquiátrica e grau de instrução.

 

Níveis clinicamente significativos de ansiedade e depressão foram mais comuns no grupo gestantes da era covid-19 do que no grupo gestantes pré-covid-19 (10,9% versus 6,0%).

 

A taxa de pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) foi ligeiramente maior entre as gestantes da era covid-19 que entre as gestantes pré-covid-19, mas não de forma significativa, disse o pesquisador do estudo Dr. Nicolas Berthelot, Ph.D., professor-associado de enfermagem na Université du Québec à Trois-Rivière, no Canadá.

 

E, embora o estudo feito em Quebec tenha avaliado apenas gestantes, e não aquelas que já haviam dado à luz, o Dr. Nicolas indicou dados mostrando que ansiedade, depressão e eventos traumáticos durante a gestação são os maiores preditores de depressão pós-parto.

 

“Nós, infelizmente, observamos todos os elementos da depressão pós-parto em um número considerável de mulheres vivenciando a gestação durante a pandemia de covid-19”, ele disse ao Medscape.

 

O estudo do Dr. Nicolas confirma dados provenientes da China e da Turquia, que mostraram que a incerteza, o isolamento social e as alterações na rede de suporte pessoal estão apresentando efeitos deletérios nas gestantes, e potencialmente afetando seus bebês.

 

“Realizar uma triagem e indagar sobre o estresse materno deveriam ser prioridades de saúde pública”, disse o Dr. Nicolas.

 

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6504974?src=soc_tw_200701_mscpmrk_ptpost_student,IM,obgyn,psych,id_pandemiadepressão&faf=1#vp_1